Norma teve que esperar 14 anos para ler a frase condena o Equador por ter violado os seus direitos ao não protegê-la devido ao abuso sexual que sofreu por parte de seu pai quando tinha apenas 12 anos.
Em 20 de janeiro de 2025, o Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas emitiu um frase histórica em que força o Equador a aplicar medidas de reparo abrangentes, que amenizam o sofrimento que Norma vivenciou quando criança.
No documento, o Comité sustenta que Norma foi forçada a dar à luz seu filho, produto de uma prática sexual incestuosa que abreviou o seu futuro. Além disso, ele ressalta que o Equador “violou seu direito de viver com dignidade, submetendo-a a situações que constituem tortura”.
Segundo o Comité, embora Norma demonstrasse a sua clara vontade de entregar o seu filho para ser criado por membros da sua família, ela estava mal informada sobre as opções de adopção, razão pela qual foi forçado a criar um filho na pobreza e sem acesso à educação
O grupo ‘São meninas, não mães’ lembra que o caso chegou ao Comitê porque Eles tinham certeza de que Norma não encontraria justiça no Equador.
Em nota, o grupo ressalta que a sentença “marca um marco na garantia dos direitos reprodutivos em nível global, já que obriga o Equador a modificar a sua legislação para garantir a interrupção voluntária da gravidez e que as meninas não enfrentam gravidez e maternidade forçadas.
Medidas de reparo
O Comitê de Direitos da ONU estabeleceu o seguintes medidas corretivas para Norma:
- Aplicar medidas individuais de reparação, como indemnizações, apoio para retomar os estudos, ter apoio psicológico e outras medidas que lhes permitam retomar os seus projetos de vida.
- Modificar a legislação para assegurar e garantir a interrupção voluntária da gravidez de forma segura, legal e eficaz, especialmente em casos que envolvam sofrimento intenso, como gravidezes resultantes de violação sexual.
- Realizar ações para combater a violência sexual em todos os setores, incluindo ações educativas e de sensibilização para prevenir, abordar e processar estes casos.
- Capacitar profissionais de saúde e operadores de justiça no atendimento integral em casos de violência sexual e garantir ações eficazes quando houver perigo devido a um histórico de ataques semelhantes.
O grupo ‘São meninas, não mães’ explica que estas medidas são cumprimento obrigatório e imediato, Portanto, o Estado equatoriano deve executá-los o mais breve possível.
Os fatos
Em 2011, quando Norma tinha apenas 12 anos, foi abusada sexualmente pelo pai, que já havia cometido esse crime contra um de seus primos.
Nos meses seguintes, menina apresentou problemas acadêmicos que a obrigaram a abandonar os estudos, sem que as autoridades escolares estivessem interessadas no caso.
No início de 2013, aos 13 anos, sua irmã mais velha percebeu que teria um filho. Após um exame médico, Norma descobriu que estava grávida de 27 semanas.
“A única coisa que Norma pediu foi fazer um aborto porque não queria criar um filho, produto de estupro”.
Julgamento do Comitê de Direitos Humanos
Apesar de consultar vários médicos, ninguém a ajudou e semanas depois a criança nasceu. “O nascimento foi uma experiência traumática para Norma. Depois de ser ameaçada de não receber tratamento por não “colaborar” com a equipe médica, foi submetida a uma cesariana de emergência no dia 9 de setembro de 2013”, diz o parecer.
Entre 2013 e 2015, Norma morou com a tia, cuidando do filho, sem estudar nem trabalhar.. Aos 15 anos saiu da casa da tia para estudar em uma escola noturna.
Porém, em 2017 ela teve que abandonar definitivamente os estudos para trabalhar e suprir as necessidades do filho. A última coisa que ele sabia seu pai foi quem morreu em 2015 sem que a justiça o tenha condenado.